LENDA DO CATIVO DE BELMONTE
Existe no Museu Carlos Machado
de Ponta Delgada um painel quinhentista, muito repintado, com a rara
representação da lenda do Cativo de Belmonte. Esta lenda, hoje praticamente
esquecida, diz-nos que o soldado Manuel, natural de Belmonte, foi preso pelos
mouros em Argel e lá ficou alguns anos como escravo de um senhor muito cruel
que lhe dava maus tratos e à noite o fechava numa arca sobre cujo tampo dormia.
O pobre cativo não deixava de pedir auxílio a Nossa Senhora da Esperança que,
segundo narra o milagre, lhe apareceu na véspera de Páscoa e lhe anunciou que
iria ser em breve liberto. E, maravilha !, a arca onde Manuel estava fechado e
acorrentado elevou-se no ar e voou acima do mar, juntamente com o mouro que
sobre ela dormia. Desde Argel, a arca chegou a Belmonte no sábado de Aleluia, à
hora da missa, para espanto da população. O mouro cruel logo se converteu ao
cristianismo, e o cativo fez erguer no local uma capela dedicada a Nossa
Senhora da Esperança. A tábua de Ponta Delgada (cuja existência é agora
revelada na 'História da Arte nos Açores') deve-se a uma oficina micaelense
activa no final do século XVI ou início do XVII e justifica tratamento,
restauro e exposição. Na igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, termo de Évora, encontrei
um fresco de início do XVII que narra o mesmo milagre do cativo de Belmonte.
Existe numa igreja de Penamacor uma tela do século XVIII, dada a conhecer em
monografia de José Manuel Landeiro, que narra este raríssimo milagre mariano,
mas não me consta que em Belmonte exista hoje alguma representação. Também no
Algarve, em Olhão, existe outra versão desta singular história de mouros e
cativos. Contei esta história maravilhosa de redenção às minhas netas. E...
será mesmo que não existem milagres ?
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