segunda-feira, 1 de março de 2021

Lenda do cativo de Belmonte

 

LENDA DO CATIVO DE BELMONTE

 Existe no Museu Carlos Machado de Ponta Delgada um painel quinhentista, muito repintado, com a rara representação da lenda do Cativo de Belmonte. Esta lenda, hoje praticamente esquecida, diz-nos que o soldado Manuel, natural de Belmonte, foi preso pelos mouros em Argel e lá ficou alguns anos como escravo de um senhor muito cruel que lhe dava maus tratos e à noite o fechava numa arca sobre cujo tampo dormia. O pobre cativo não deixava de pedir auxílio a Nossa Senhora da Esperança que, segundo narra o milagre, lhe apareceu na véspera de Páscoa e lhe anunciou que iria ser em breve liberto. E, maravilha !, a arca onde Manuel estava fechado e acorrentado elevou-se no ar e voou acima do mar, juntamente com o mouro que sobre ela dormia. Desde Argel, a arca chegou a Belmonte no sábado de Aleluia, à hora da missa, para espanto da população. O mouro cruel logo se converteu ao cristianismo, e o cativo fez erguer no local uma capela dedicada a Nossa Senhora da Esperança. A tábua de Ponta Delgada (cuja existência é agora revelada na 'História da Arte nos Açores') deve-se a uma oficina micaelense activa no final do século XVI ou início do XVII e justifica tratamento, restauro e exposição. Na igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, termo de Évora, encontrei um fresco de início do XVII que narra o mesmo milagre do cativo de Belmonte. Existe numa igreja de Penamacor uma tela do século XVIII, dada a conhecer em monografia de José Manuel Landeiro, que narra este raríssimo milagre mariano, mas não me consta que em Belmonte exista hoje alguma representação. Também no Algarve, em Olhão, existe outra versão desta singular história de mouros e cativos. Contei esta história maravilhosa de redenção às minhas netas. E... será mesmo que não existem milagres ?

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