quarta-feira, 5 de maio de 2010

O COLÉGIO DE NOSSA SRA. DA ESPERANÇA - RECORDAÇÕES


Depois de ter aqui referido as nossas aulas de inglês no colégio de Belmonte (no post The Bishop Candlesticks) e na tentativa de trazer à liça velhos companheiros de armas, pensei em postar agora umas palavrinhas sobre esses belíssimos anos!
Durante os dois anos que ali passei o director da instituição era, como já recordei, o Padre Pires (inglês e ciências)! Outros professores que ali leccionavam eram o Padre Manuel (francês e história); o Padre Gama (geografia); o Padre Fatela (português); o Padre Pereira (matemática) e a Dona Manuela (física). Não me lembro do nome da professora que dava desenho e educação física!
No meu segundo ano no colégio apareceu um novo professor de inglês, o "teacher", ex-seminarista com uma pronúncia da língua inglesa deveras peculiar! Também apareceu um novo professor de educação física que iniciou os alunos nos desportos colectivos e principalmente na prática do andebol! Eu aqui, por já ter jogado durante dois anos no Liceu de Gaia, tinha uma grande vantagem sobre todos os outros e, não é para me gabar, mas era o melhor lá do maralhal! Até me começaram a apelidar de " o pivot" pela meu desempenho em jogo! Na altura até se organizou um campeonato interno que, como é lógico a minha turma venceu!
Este colégio tinha alunos internos e externos! Os internos eram, na sua grande maioria, alunos repatriados de outras escolas por comportamentos incorrectos!
Nós, de Gonçalo, viajávamos na carrinha do colégio, conduzida pelo sr. Fernando! Primeiro na pequena "laranjinha" e depois num autocarro maior que nos levava a nós, aos da Vela, da Gaia e do Colmeal! Estas viagens eram sempre uma festa! As piadas de uns para com os outros surgiam com facilidade! Então os do "nosso povo", com as suas histórias de combóios e Santo Antão, eram o alvo preferido!
O almoço era levado de casa! Eram os tempos da marmita embrulhada em papel de jornal para que a comida não arrefecesse! Cada grupo tinha um espaço reservado para a toma da refeição! Nós, abrigávamo-nos numa pequena cobertura de uma espécie de capela que havia em frente ao portão do colégio e era ali que sacávamos o almocinho do saco e lhe dávamos andamento. Sentados se estivesse bom tempo, em pé e encostados uns aos outros quando estava a chover!
Mais próximo do Verão íamos para um muro que ficava mais ou menos em frente á actual escola de condução e logo ao lado de um depósito de garrafas de gás! Era um lugar jeitoso com um bocado de terreno ervado! No fim da refeição costumávamos jogar futebol ou raguebi com uma marmita de plástico "domplex" que o nosso companheiro Baluto levava!
Aqui só destoava o amigo Mané que era o único que já usava um termo! Era um termo de dois andares, um para a sopa e outro para o segundo! Ainda hoje recordo aquela maravilhosa visão da comida a fumegar quando ele tirava a tampa! Coisas de gente rica!
Este colégio, utilizava na sua publicidade, a máxima - "100% de aprovações" em exames!

Para que isso acontecesse, a pedagogia aplicada era também especial! "Porrada" nos alunos que não soubessem as matérias ou naqueles que se portassem mal! O Padre Pires tirava o relógio e já sabíamos que ía distribruir "fruta"! A Dona Manuela agarrava os cabelos dos cábulas e batia-lhes com a cabeça no quadro! O Padre Manuel quando havia conjugação de verbos franceses levava para a aula um rolo de cartão duro e "zupava" na cabeça dos que não "parlavam" à maneira! O Padre Pereira era à estalada! Este foi o único que me bateu durante os meus dois anos de colégio - deu-me um par de estaladões por ter trocado "20 escudos" por "20 paus"!
Para além desta óptima pedagogia, o colégio só levava a exame aqueles que tinham a aprovação garantida! Os outro eram propostos pelos professores! Se chumbassem não entravam na percentagem de aprovações!
E quando havia furos? Aí éramos obrigados a ir para a sala de estudo onde devíamos passar o tempo estudando, como é lógico! Porém, e graças principalmente ao amigo João Soares, dos 3 Povos, mais conhecido por "Calmão", não faltavam ali livros de banda desenhada, principalmente "cowboyadas", que o pessoal ia lendo às escondidas do supervisor! É que se fôssemos apanhados tínhamos de ir ao gabinete do director! E aí, lá vinha mais "porrada" pela certa!
Mais tarde ainda encontrei o amigo Calmão e o amigo Peralta como "brothers in arms" na Armada Portuguesa! Escolinhas... eh... eh... eh!
Um dia, durante a aula de português e quando o Padre Fatela divagava eloquentemente sobre a Ilha dos Amores (entrava em êxtase neste Canto IX), eu e o amigo Paixão (R.I.P.) decidimos fazer um totobola a "mielas"! Ele fez a sua aposta e passou-me o boletim! Começo a fazer as cruzinhas e quando levanto a cabeça só vejo o Fatela a descer as escadas do estrado e a vir na minha direcção! Fiquei em pânico! Então o Fatela confisca-nos o boletim e manda-nos a caminho do gabinete do Pires!
O Director manda-nos entrar e começa a tirar o relógio (o amigo Paixão era um frequentador assíduo das tareias dadas pelo Pires)! Começa por me perguntar o que tinha acontecido e eu refiro que estava a fazer o totobola na aula mas que o Paixão não tinha feito nada de mais pois tinha-me dado o impresso no intervalo! Dessa vez o Paixão escapou mas eu ainda tive que esperar que o Pires consultasse o meu historial e as minhas pautas para que fosse mandado embora, já que era bom aluno e era a primeira vez que ali aparecia! Claro que fui logo ameaçado que da próxima não escapava!
Sabe-se lá se naquele maldito totobola não estaria a nossa sorte grande!
Doutra vez vou assistir a uma aula de francês na turma do Baluto e fico sentado ao seu lado. Por azar o padre Manuel embicou para aquela carteira e começou a fazer as perguntas de interpretação do texto ao amigo Zé Augusto! Numa das questões o Baluto tinha de enumerar todas as peças do equipamento de um jogador de raguebi! O rapaz com a atrapalhação não conseguia dizer todas, faltavam as meias acho eu! Pois enquanto ia gaguejando iam chovendo as estaladonas do Padre Manuel! E o Baluto cada vez mais aflito! E o Padre cada vez mais massacrante! E eu ali ao lado sem "tugir nem mugir"! É que se dissesse qualquer coisa ainda sobrava para mim!
Muitas histórias há ainda para contar mas vou dar oportunidade para tal aos amigos Robalito, Charruas e Mané! E porque não Baluto? Mandem de lá as vossas recordações para fazermos uma bonita compilação dos tempos do Colégio de Nossa Senhora da Esperança, era assim que se chamava! (Ordem do Carvalho Grande).

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