segunda-feira, 23 de novembro de 2009

IGREJA DE SANTIAGO E PANTEÃO DOS CABRAIS


A Igreja de Santiago foi igreja paroquial até 1940 e esteve sempre associada aos Cabrais. Esse facto justifica que o Panteão dos Cabrais lhe esteja adossado à esquerda.
Esta igreja é um belíssimo exemplar de arquitectura românica-gótica com frontaria barroca (alteração no tempo de D. Francisco Cabral, documentada por inscrição), remate em cornija decorada com esferas e cachorrada medieval ornada com motivos vários apresentado indícios de aproveitamento de materiais pertencentes a uma igreja e cemitério visigóticos pela existência de cabeceiras de sepulturas.
A igreja de S. Tiago terá sido construída por ordem de D. Maria Gil Cabral, esposa de Gil Álvares Cabral no século XIII, depois de a ter recebido em testamento de D. Gil Cabral, Bispo da Guarda com a condição de ali instituir uma capela dedicada a Nossa Senhora da Piedade e construir um morgadio vinculado à mesma. Este morgadio foi criado em 1397 a favor de Luís Álvares Cabral, sobrinho da fundadora, já que não deixou descendência. Foi desta forma que se criaram as bases do poder temporal dos Cabrais em Belmonte.
No interior da Igreja situa-se a Capela de Nossa Senhora da Piedade onde se encontra a famosa Pietá monolítica que é ladeada pelo túmulo armoriado de D. Maria Gil Cabral. Esta capela gótica possui arcos quebrados e abóbada de cruzaria de ogivas, colunas com capitéis decorados com motivos zoomórficos, florais e antropomórficos, dos quais se destacam os que pertencem às colunas encostadas ao arco toral e ao fundo da arca tumular. Estes capitéis historiados relatam feitos ocorridos no Norte de África e que se atribuem a Fernão Álvares Cabral.
Esta igreja outrora envolvida nas lutas entre os Bispos da Guarda e Coimbra, apresenta planta longitudinal composta, de nave única e capela-mor rectangular tendo no interior junta à referida capela gótica, uma arco gótico de intradorso ornamentado de pequenos lóbulos, sobrepujado pelo Brasão dos Cabrais entre duas prensas de azeite, representadas em alto relevo.
As várias pinturas murais que aqui se vislumbram forma postas a descoberto aquando das obras de restauro da Igreja (1963), altura em que se procedeu à remoção dos retábulos entalhados da capela-mor e da colateral direita. As datas de execução destas pinturas estende-se por cerca de 150 anos desde o séculos XV-XVI ao séculos XVII e correspondem a cinco campanhas distintas de pintura.
No fresco manuelino da parede fundeira, na capela-mor, encontram-se representadas três figuras: Virgem com o Menino, Santiago e S. Pedro que forma uma espécie de tríptico. As decorações de temática vegetalista inspiradas na olaria tradicional que ladeiam a representação central são do Século XVII, mais precisamente, da altura do acoplamento do retábulo-mor primitivo (1630).
Junto ao arco que dá acesso à capela-mor, do lado esquerdo, encontram-se outras representações pictóricas. Tratam-se igualmente frescos onde existem campanhas sobrepostas e se pode observar:  a Santa Mártir, um dos atributos de Santa Luzia;  S. Domingos e, na parede lateral direita, S. João Batista. A Santa Mártir que apenas ostenta a palma do martírio, sendo essa razão difícil de identificar, é considerada a melhor representação existente nesta Igreja uma vez que a sua execução revela um bom domínio técnico e artístico para a época.

Em termos cronológicos a representação desta Santa Mártir poderá ter sido executada em finais de 400 d.C. sendo contemporânea da Santa Luzia, uma vez que ambas faziam parte da mesma representação. O S. Domingos é posterior a estas e S. João Baptista foi elaborado depois da representação principal da capela-mor.
O Púlpito renascentista. situado junto à porta que dá acesso ao Panteão dos Cabrais é composto por quatro peças:  pia de água benta;  tribuna;  dossel;  e o nicho encimado por dossel de menores dimensões. A tribuna é decorada com motivos florais ostentando na zona central a prensa e uma vieira - símbolos associados, respectivamente, aos Cabrais e a S. Tiago. A prensa surge igualmente representada na pia de água benta.
A Pia Baptismal, em forma de cálice, encontra-se integrada num baptistério de planta quadrada, com acesso por arco pleno, que se situa na intersecção com o Panteão dos Cabrais perto da porta principal.
O Coro Alto, em madeira, sustentado por duas colunas toscanas é do tempo de D. Francisco Cabral (Século XVII).
É no Panteão dos Cabrais que se encontram os túmulos de vários elementos desta ilustre família. No interior, junto à porta que liga o Panteão à Igreja de S. Tiago, observa-se à direita, o túmulo de Fernão Cabral I e Isabel de Gouveia, pais de Pedro Álvares Cabral. Na parede oposta, encontram-se os restos mortais de João Gouveia (alcaide-mor de Castelo Rodrigo), de sua mulher Leonor Gonçalves e do seu filho Vasco Fernandes Gouveia (pais e irmão de Isabel de Gouveia). Estes dois túmulos góticos de morfologia semelhante fizeram parte de uma primeira capela mausoléu manda construir por Fernão Cabral I e sua mulher, Isabel Gouveia.
Num plano superior, cujo desvão foi aproveitado para fazer o Carneiro e onde se lê: "PORTA DESTE CARNEIRO 1630" ressalta a reforma renascentista, feita no tempo de Francisco Cabral, onde se encontram duas arcas tumulares de estilo renascença. Do lado esquerdo, a inscrição revela quem ali jaz: Fernão Cabral III (6º Alcaide-mor de Belmonte), Nuno Fernandes Cabral (fidalgo da Casa Real e 7º Alcaide-mor de Belmonte). A identificação dos restos mortais que a arca tumular da direita encerra não está comprovada mas são apontados dois nomes: Fernão Cabral IV (o Gigante das Beiras) e seu irmão Francisco Cabral. Ao centro , a arca tumular de granito contém cinzas retiradas do túmulo de Pedro Álvares Cabral localizado na Igreja da Graça em Santarém.
No exterior, o frontispício do Panteão apresenta portal seiscentista de lintel recto moldurado, rematado por frontão curvo que integra a inscrição onde são identificados os nomes de quem mandou construir e reformou esta capela. A torre sineira isolada é de construção ou reconstrução oitocentista.


Sem comentários:

Enviar um comentário